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Pastoral da Saúde completa 10 anos de atendimentos e gratidão

Rafael Vigna Editado em 03/05/2019

Pastoral da Saúde completa 10 anos de atendimentos e gratidão

Por Carolina Rodrigues

No dia 22 de março, a Pastoral da Saúde completou 10 anos de história. Conforme o passar dos anos, pessoas e mais pessoas foram se unindo para propagar a fé através da palavra de Deus. Atualmente 76 voluntários se dividem para realizar um trabalho bem feito, que une coragem, perseverança e muita dedicação.

A história começa em 2008. A Pastoral da Saúde foi uma iniciativa idealizada pelo vigário da igreja Matriz, José Augusto Nunes. Naquela época ele era responsável pela coordenadoria da Pastoral em sua dimensão solidária, que visava ajudar pessoas carentes levando eucaristia em suas casas. Mas para ele aquilo não bastava. Seu desejo de amparo ia além: ele queria ajudar as pessoas com remédios caseiros feitos a partir de ervas medicinais.

Mariza Disconzi, atual coordenadora do projeto, já participava das eucaristias naquela época quando não estava em sala dando aula. Mariza lembra que José Augusto pediu para ela criar o projeto que seria apresentado ao coordenador da Regional Sul 3 (entidade responsável pela coordenação das pastorais da saúde da região), Sérgio Helmuth. “De chá eu só entendo de marcela para o estômago”, ela recorda a forma como respondeu ao pedido.

Mariza e um grupo de voluntários organizaram e elaboraram o projeto. Em dezembro de 2008 a Pastoral da Saúde havia nascido. Dois cursos foram realizados a fim de capacitar o pessoal envolvido. O primeiro dava instruções sobre a responsabilidade sobre a produção de remédios caseiros e o segundo orientava noções de higienização da sala fornecida pela igreja Matriz – mesma sala em que a Pastoral fornece seus remédios hoje numa espécie de farmácia. Antes, o espaço era uma cozinha de produção dos medicamentos e nenhum deles era vendido ali.

Na verdade, os oito voluntários visitavam comunidades quando aconteciam missas. Com amostras singelas de apenas três xaropes e uma pomada, disposição para tirar dúvidas do público e conversar sobre os benefícios dos remédios, quem passava por ali tirava um tempinho para conversar e muitas vezes comprar algum medicamento. “Graças, também, ao estímulo e divulgação dos padres, nós fomos granjeando credibilidade. O povo foi começando a confiar”, Mariza recorda. Outra forma de atrair o público foi com a organização de brechós. A responsável pela organização atual da venda de roupas, Maria Knapp, conta que eram levados sacos cheios de peças em cada comunidade. O brechó fazia mais sucesso do que os remédios em si, mas as voluntárias sempre demonstravam disposição a quem tivesse dúvidas sobre eles.

Houve um período em que os produtos eram vendidos na secretaria da Paróquia São Francisco de Borja. Medicamentos eram deixados ali e os funcionários eram responsáveis pela comercialização. Mariza comenta que os colaboradores não sabiam explicar às pessoas como tomar cada xarope e nem para o que serviam. “Estávamos desvirtuando o nosso remédio, porque nosso principal objetivo é cuidar da vida. Ali estava virando um comércio. A pastoral existe para cuidar da vida. E a gente só cuida da vida se acontece o olho no olho, se através da fala estimulamos o uso e se trazemos confiança ao poder da medicação”.

“A pastoral contou com o apoio da comunidade, principalmente das comunidades São Pedro e São Roque. Passamos a fazer brechós, fazer rifas e chás beneficentes nesses locais até que conseguimos dinheiro necessário para começar de fato o trabalho, com a compra de aparelhamento para a sala”. – Mariza Disconzi

Todo o dinheiro arrecadado com as vendas, todavia, não era destinado aos voluntários, mas à reforma do espaço em que produziam os medicamentos. Era imprescindível ter a sala impecável para atestar a qualidade do que era feito. Não existiam locais especializados em produzir remédios caseiros em São Borja. As comunidades São Roque e São Pedro se arriscaram a produzi-los, mas sem as condições de higiene necessárias. O trabalho foi suspendido.

Então, de dezembro de 2008 até março de 2009, a Pastoral conseguiu juntar dinheiro o suficiente para equipar a sala de acordo com as exigências impostas. As paredes foram reformadas, o piso foi trocado e o local foi adquirindo os moldes atuais. Em 2011 foi aberta a farmácia da Pastoral da Saúde.

O trabalho na farmácia é contínuo até hoje. As, agora, 20 voluntárias cooperam de segunda a sexta. Segunda e quarta os dias são destinados a produção de tinturas, óleos, sabão, vermífugos, pomadas, xaropes e bálsamos. Durante terças e quintas pelo período da manhã acontecem as vendas desses produtos e um brechó – o qual garante o funcionamento do espaço, já que os remédios possuem preços acessíveis de R$1 a R$5. Esses e os outros dias da semana também são dias de limpeza e esterilização do espaço. O trabalho na cozinha, por sua vez, é incessante para garantir o ritmo de produção dos xaropes. Até porque cada remédio tem um tempo médio de preparo. Uma tintura feita a partir de folhas de erva leva de sete a 14 dias para ficar pronto, por exemplo.

Todo esse trabalho é consequência da alta demanda por produtos caseiros. Às terças e quintas, 200 pessoas são atendidas. Mas agora, com o inverno chegando, a procura cresce e o número aumenta algumas casas decimais. Mariza garante que todo mundo consegue o remédio que quer. Vez ou outra alguém pode não encontrar o que deseja, mas são casos esporádicos. Há medicamentos para todo tipo de enfermidade, desde gripes até depressão. Tem remédio contra piolho, má digestão, perda de memória e até um que auxilia no tratamento do câncer e da AIDS. Em 2018, foram vendidos 39,4 mil remédios ao todo.

As plantas utilizadas na produção dos mais de 80 medicamentos são compradas em São Paulo e Porto Alegre, mas a grande maioria vem do Jujeiro, localizado no bairro do Tiro. O aposentado Perciliano Alvez da Cruz, trabalha no espaço há sete anos. Conhecido como seu Jujeiro pelas voluntárias do projeto, todo dia ele vai até o local, uma espécie de horta, para colher e cuidar do solo e das plantas. Num levantamento feito ano passado, o jujeiro possuía mais 200 espécies diferentes. “Tudo isso aqui é erva. O que pisar aqui dentro é erva”, é o que ele comenta conforme andamos sobre e terra macia, dando início a visita.

O espaço é grande, por isso demoramos meia hora para conhecer tudo. O jujeiro abriga temperos, frutas, tubérculos. Manjerona, marcela, calêndula, espinheira santa, fumo bravo, limão paulista e jatobá – que veio diretamente de Brasília por avião. Dente de leão, violeta de jardim e melissa, comuns em jardins residências, também estão plantados ali para servirem como futuros medicamentos.

Para Perciliano, um dos problemas enfrentados no plantio é o clima instável. Como os dias estão alternando entre quente e frio, as plantas não conseguem se adaptar as constantes mudanças de temperatura. Segundo ele, dependendo do clima, é preciso proteger do sol ou até mesmo do frio intenso.

Mas isso não o desanima. O seu Jujeiro enaltece a gratidão por seu trabalho todos os dias. “Eu gosto muito disso aqui, me aposentei e logo me contrataram. As meninas da Pastoral me tratam muito bem, dão muito valor ao serviço da gente. Aqui a gente trabalha à vontade”.

Depois de colher as ervas necessárias, Perciliano as entrega para Mariza. A coordenadora da Pastoral da Saúde deixa as plantas desidratarem num lugar fresco, então cada uma é separada de forma minuciosa em caixas. Quando é preciso usar determinada planta é só recorrer ao estoque.

Baseando-se em livros e receitas feitas em parceria com fitoterapeutas, as voluntárias misturam determinadas ervas, que juntas, são potencializadas. Todas as receitas são testadas e recomendadas por especialistas, que avaliam a propriedade terapêutica de cada planta. Ao serem aprovadas, logo são indicadas à Pastoral, que em consequência, orienta o público qual o melhor remédio para o seu mal-estar. “Sabemos que aqui o nosso trabalho é guiado e abençoado. Somos instrumentos na mão de Deus. Nossos remédios agem, porque a vontade de Deus se faz e nós sabemos que existe essa relação de confiança e fé. Sempre pedimos para que o Espírito Santo nos ilumine para que a gente possa indicar o melhor para cada pessoa”, Mariza Disconzi exalta.

Além do trabalho na farmácia da Pastoral da Saúde, outros voluntários se dividem em visitas a casas de enfermos e ao Hospital Ivan Goulart. Em ambos, a missão é levar a palavra de Deus e confortar as famílias e quem está doente. As atividades acontecem de 15 em 15 dias nas casas e três vezes durante a semana no caso do hospital. Toda segunda, quarta e sexta, três grupos com voluntários diferentes se reúnem e visitam quartos e alas.  

Nas segundas-feiras, Jurema Moreira, Lenir Toller, Rose Weber, Luane Reolon, Mari Pereira e Rosa Leão são as mulheres responsáveis pela primeira ação da semana. Por ser um grupo menor do que o dos outros dias, elas têm menos alcance no hospital, desta forma, concentram a visita ao SUS e a ala de dependentes químicos e doentes mentais chamada Ala Renascer, onde chegam a ficar meia hora, lendo a bíblia e ouvindo os pacientes.  

Quem está a mais tempo é Jurema, com nove anos de Pastoral. Luane é a mais recente integrante do grupo, está com elas há um mês. Independente do tempo de ação, todas carregam muita força para aqueles que estão num momento frágil. Elas visitam cada quarto divididas em duplas, “assim como é dito na Bíblia”, Jurema ressalta. “Depois disto, o Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos e enviou-os à sua frente de dois em dois a todas as localidades, vilas e aldeias que tencionava visitar mais tarde” (Lucas 10:1).

Em cada quarto, elas oferecem uma mensagem impressa ao enfermo e sua família, conversam um pouco sobre a saúde do paciente e leem um pequeno trecho da bíblia para ajudar. “O meu sogro ficou quase três meses internado e ele já sabia os horários em que as meninas vinham. Quando havia algum atraso, ele sempre perguntava por elas, porque sentia falta. É algo que te conforta”, Lenir conta.

Ano passado foram totalizadas mais de 7 mil visitas aos quartos hospital. A cada segunda-feira os grupos percorrem 20 quartos. Em todo encontro, as voluntárias anotam o nome dos pacientes e rezam por eles todas as quintas, na Missa da Saúde, aberta ao público na igreja Matriz.

O voluntariado da Pastoral é bem recebido pelo hospital. Médicos, enfermeiros e até mesmo pacientes de outras religiões gostam de receber esse tipo de conforto, como se fossem lembrados e sua força revigorada.

Em três anos como voluntária, Lenir só enfrentou um paciente que não aceitou a palavra da bíblia. Houve uma vez em que uma das participantes entrou num quarto em que o enfermo era testemunha de Jeová. Para sua surpresa, ele mesmo pegou seu celular, comparou o texto da bíblia católica com a da sua religião e, como viu ser o mesmo, aceitou receber a oração. Em outro caso, uma delas encontrou um evangélico que sem titubear, concordou com a leitura. Toda a família deu as mãos em volta da cama e no fim foi ele quem comandou a oração. Ao sair do hospital, ele foi até a paróquia agradecer o trabalho desempenhado pelas voluntárias.Para todas elas, essas pequenas ações são muito gratificantes.

Em coincidência, um dos princípios da Pastoral da Saúde, diz não existir distinções entre religiões, cores, posição social... “Eu acredito que a pessoa que procura, mesmo aqueles que não são católicos, vem até aqui porque acreditam que a erva é uma dadiva de Deus para a humanidade. A gente olha para a vida. A gente cuida da vida de todos”, Mariza conclui.

A fé é imutável, seja qual for a religião. O padre Márcio Benachio Auzami, que chegou na paróquia em fevereiro deste ano, enfatiza que o trabalho da Pastoral vai além da venda de remédios. “Nós recordávamos durante a comemoração dos 10 anos, aquele dizer de Jesus ‘eu vim para que todos tenham vida’. É isto que colocamos em prática nos nossos trabalhos Nós, enquanto continuadores do projeto de Jesus, temos a missão de projeta-lo”. Seja na dimensão solidária, visando sempre ajudar os mais carentes; na espiritual, através do conforto e atenção transmitidos pelos voluntários e na dimensão político-social, com direito a um voto no Conselho Municipal da Saúde. Todos os ganhos da Pastoral da Saúde são resultados de um grandioso ciclo de gratidão entre voluntários e população, que perdurará mais outros vários anos.

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