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Clubes e entidades tradicionalistas seguem de portas fechadas e sem atividades diante da pandemia

Com calendário de 2020 suspenso, dificuldades financeiras foram relatadas por representantes e presidentes de entidades de São Borja

Tchaylen de Souza Editado em 04/07/2020

Clubes e entidades tradicionalistas seguem de portas fechadas e sem atividades diante da pandemia

Centro Nativista Boitatá, uma das entidades de portas fechadas desde março (Foto: Tchaylen de Souza/ESBC)

Por Tchaylen de Souza

 

Com o avanço da pandemia mundial do novo coronavírus no Brasil, desde fevereiro de 2020, muita coisa mudou no cotidiano da população. Cuidados redobrados com a higienização, mudança de hábitos, e principalmente, isolamento social. A partir dessa medida de contenção do espalhamento do vírus, a área cultural e artística foi bastante afetada, bem como, clubes e entidades que promovem esses eventos sociais. Em São Borja, terra de referência do tradicionalismo e conhecida como a Capital do Fandango, a pandemia afetou diretamente as associações da cidade, já que suas atividades têm como mantenedor, as festas e eventos com um grande número de pessoas e associados. Como manter um clube sem eventos, uma entidade tradicionalista sem o famoso “jantar-baile” ou uma associação sem atividades para se manter nesse período? Patrões e presidentes de  algumas associações e CTGs da cidade falam sobre o assunto e relatam sobre a realidade do momento.

 

Centro Nativista Boitatá

Em atividade desde abril de 1974, o Centro Nativista Boitatá, no bairro do Passo, em São Borja, é uma entidade tradicionalista com atuação expressiva na cidade, principalmente no setor cultural das tradições gaúchas. O Centro também é reconhecido por sediar outros eventos, como festas de 15 anos, casamentos e formaturas, sendo a colação de grau de 2019 e baile de formatura dos cursos de Serviço Social, Publicidade e Propaganda, Relações Públicas e Jornalismo da Unipampa Campus São Borja seu último evento social, em março de 2020, antes do isolamento. O Patrão da atual gestão do Boitatá, Flávio Ceolin, relatou como tem sido a situação desde a suspensão dos eventos:

“Não só o Boitatá, mas as outras entidades também ficaram numa situação difícil, porque a nossa receita vem de eventos. Desde que começou a pandemia, tivemos que suspender tudo, não tivemos nada mais desde que fechou. Nós temos aqui três funcionários e dois tivemos que suspender o contrato por dois meses para diminuir os gastos. A situação ficou difícil”, afirma o patrão. 

Segundo Ceolin, o trabalho da equipe de administração e patronagem é praticamente voluntário. Contudo, a atual gestão ainda conseguiu aplicar uma receita referente a venda de um imóvel pertencente à entidade em alguns encargos, mas com destino já definido para uma ampliação do prédio:

“Estamos nos mantendo hoje porque tivemos a venda de um imóvel, que na verdade era pra ser aplicada no prédio, na ampliação. A gente tá usando um pouco desse recurso pra manter a entidade, senão, não teria nem como pagar água e luz”, afirma o gestor. Perguntado sobre o repasse de receita do poder público, Ceolin afirma que não há apoio financeiro por parte da administração municipal, estadual ou federal. “A gente não conseguiu nenhum recurso público até o momento. Estamos aguardando algum projeto que possa ser repassado alguma coisa para as entidades. Mas no momento, cada um tem que se virar como pode”. Uma fonte de receita da entidade é por parte de patrocinadores, geralmente empresas privadas da cidade e região que apoiam a manutenção do espaço, porém, por conta da crise econômica do momento atual, muitas empresas também tiveram que cortar custos como patrocínios e colaborações em dinheiro, como comenta Flávio: 

“Nós temos patrocinadores, alguns fazem doação de vaca, por exemplo, outras empresas fazem doação em dinheiro. A gente teve alguns que já haviam concretizado o apoio, o que nos ajudou bastante. Mas a partir do momento que tudo teve que ser paralisado, as próprias empresas suspenderam o pagamento dos patrocínios”, lamenta.

Faltando de três meses para a Semana Farroupilha, Ceolin afirma que há otimismo da entidade para que a situação normalize e os eventos possam ser realizados.

“Quanto à Semana Farroupilha, a gente ainda mantém a expectativa de realizar, né. Esperamos que início de agosto, quando se tem alguma previsão de que se volte à normalidade, temos esperança que sim. Nossa programação está toda contratada e neste momento estamos mantendo. Só não vamos vender ainda antes da certeza da realização. Sobre algum evento, até pensamos em fazer alguma coisa de arrecadação, um galeto, mas a situação tá bem complicada, o pessoal não tem saído pra adquirir, então vamos aguardar. Para não ficar totalmente de portas fechadas. o Boitatá participa do Festival “Cante e Encante o seu CTG” com uma música sobre a entidade, como forma de manter as atividades mesmo que seja de forma remota. A tradicional Ronda de São Pedro, que aconteceria agora no mês de junho, está prevista para novembro, segundo o patrão Flávio Ceolin.  

 

Clube Recreativo São-borjense

Com atuação no cenário social de São Borja, reconhecido pelos bailes dominicais, festas com temática Retrô Anos 80, espaço de veraneio para associados e demais eventos como festas e formaturas, também está o Clube Recreativo São-borjense, o CRS ou, muitas vezes, chamado apenas de “Recre”. Em conversa com o presidente da gestão 2019/2020, Osmar Jungton, a atual situação do clube diante da pandemia também foi relatada, de forma a informar a comunidade sobre como vem sendo o período de isolamento social do clube e da suspensão de suas atividades. 

“O clube é mantido por uma diretoria, com presidente, tesoureiro, secretários, conselho deliberativo. Na realidade nós temos funcionários, que no momento estão com os salários atrasados, pois o clube está fechado. Não tem renda. Os associados que pagavam, com o clube fechado, simplesmente suspenderam também. Desde que assumimos em 2019, nós temos feito o possível pra manter o clube em bom funcionamento, cumprindo com os deveres sociais e administrativos.”

O presidente também comenta que, independente da pandemia, muitos clubes sociais passam por dificuldade financeira, pois a maioria mantém-se dos eventos sociais, sem repasse público de valores.

“São todos voluntários que trabalham. Os clubes sociais, em qualquer lugar sofrem de dificuldade financeira. Nenhum clube social ganha auxílio público de ninguém.”

Perguntado sobre uma possível reabertura nos próximos meses e sobre a Semana Farroupilha, Jungton expressa expectativa otimista de um retorno próximo.

“Se existir a possibilidade fazer baile, não sei a partir de quando, qual será o percentual permitido de pessoas, etc. Graças a Deus a comunidade tá bem, não tem muitos casos de Covid-19, então, a gente fica só na expectativa da liberação. Nós temos a domingueira que é normal, os bailes Anos 80. Tinha até um evento grande marcado, mas foi suspenso”, relata. 

No início de junho, dia 7,  o CRS realizou um galeto com acompanhamentos, como forma de amenizar alguns custos e tentar regularizar os salários atrasados dos funcionários. A questão sanitária também foi relatada pelo presidente:

‘O galeto foi somente pra levar e as pessoas trabalharam com todos os EPIs corretos pra fazer a alimentação. Não vamos nominar porque são várias pessoas, mas agradecemos às pessoas que se solidarizaram e se conscientizaram com a situação do clube e nos ajudaram com a doação de 5 caixas de galeto”, explicou e agradeceu o presidente da associação.

 

CTG Tropilha Crioula

Fundado em 1962 e atuante no cenário tradicionalista da Fronteira Oeste e da Capital do Fandango, São Borja, o CTG Tropilha Crioula também é uma das entidades que passa por um momento de dificuldade financeira e paralisação das atividades enquanto a pandemia do novo Coronavírus persiste no país. O Patrão da atual gestão do Tropilha, Valmor Morgental, em rápida entrevista relatou como está a situação da entidade enquanto as coisas não normalizam. 

“Sobre a situação financeira, a gente está levando, mas está bem difícil. Mas com tudo isso que está acontecendo, nós não podemos se queixar. Tínhamos um troco em caixa, mas daqui para frente ainda estamos pensando no que fazer”, comenta o Patrão.

Apesar da dificuldade, a entidade possuía apenas um colaborador, que precisou ser exonerado para conter os custos. Morgental afirma que, por enquanto, os encargos principais da entidade são os mensais, como água, energia elétrica, internet, telefone, e o Ecad, que é o imposto sobre o uso de direitos autorais de compositores e artistas, visto que o CTG é um setor do cenário artístico e cultural das tradições e músicas gaúchas. 

Recentemente, o Tropilha Crioula realizou uma ação beneficente representando a 3ª Região Tradicionalista, a Ciranda do Agasalho, substituindo a 50ª Ciranda Cultural de Prendas que foi cancelada em razão da pandemia. Os donativos foram entregues à Casa de Acolhida de São Borja, no mês de maio. No dia 14 de junho, o Tropilha Crioula também realizou um galeto como forma de arrecadar fundos para a manutenção da entidade. 

 

CFTG Farroupilha 

Fundado em 9 de abril de 1995, o Centro de Folclores e Tradições Gaúchas Farroupilha, ou CFTG Farroupilha é outra entidade tradicionalista que enfrenta as dificuldades da pandemia. O aniversário de 25 anos de fundação do CFTG, com lamento, é um dos eventos realizados pela patronagem ao público, que teve de ser adiado. O Patrão da atual gestão do Farroupilha, Alcindo Fenner, o Kiko, há quatro anos a frente do CFTG explicou como está a situação atual e quais as medidas futuras, na expectativa de normalização da pandemia.  

"Estamos parados desde o começo de março, quando tudo foi paralisado. Não conseguimos fazer nada nesse período, pois tudo que o Farroupilha faz, assim como outras entidades, clubes e CTGs, exige a junção de público, de um grande número de pessoas", afirma. 

Sobre os encargos e a situação financeira, Kiko admite que estão fazendo milagre, visto que não há previsão para que tudo volte ao normal e o CFTG possa realizar suas atividades:

"No momento, temos os custos mensais como água, energia elétrica, internet, telefone e o Ecad, dos direitos autorais. Do jeito que estamos, temos condições de seguir no máximo por mais três meses, tá bem crítica a situação. O pior de tudo é não sabermos quando tudo poderá voltar ao normal, e como vai ser quando voltar", desabafa. 

O patrão também comentou sobre a questão de realizar atividade no momento de isolamento social, mesmo que de forma controlada e dentro das medidas sanitárias:

"Nós pensamos em fazer alguma coisa, como um galeto, por exemplo, mas é complicado. Porque tudo exige, de certa forma, a reunião de pessoas, e se expor diante de tudo que está acontecendo não é o ideal no momento. Lamentamos, pois estávamos com grandes eventos programados, como o aniversário da entidade, invernada campeira, e tudo foi cancelado, então, o melhor é aguardar uma liberação responsável", salienta.  

A respeito da Semana Farroupilha, apesar de demonstrar expectativa de sua realização, uma das preocupações de Kiko é a adesão do público, caso o evento aconteça:

"Sabemos que não só a nossa entidade passa por dificuldades financeiras, mas grande parte da população. E se for possível a realização da Semana Farroupilha, como vai ser? Qual será a prioridade das pessoas, por exemplo, vou garantir  alimentação da minha família ou vou para um baile me divertir? Isso nos preocupa, pois é preciso analisar a realidade do público também". Por último, mas não menos importante, o Patrão do CFTG Farroupilha deixa um recado à comunidade:

"Mas é assim, a gente tem que ter consciência de uma coisa: tu não constrói nada sozinho. Tu faz alguma coisa com apoio da tua patronagem, dos associados e da comunidade em geral da cidade. Todas as entidades têm uma finalidade cultural e muito sadia. Aquela questão de não deixar o tradicionalismo morrer, trazer teus filhos pra perto. A importância do trabalho voluntário, as pessoas se doando, ajudando, cozinhando. É muito grande, temos que cuidar e manter, mesmo diante da dificuldade", salienta. Apesar das dificuldades, o CFTG Farroupilha é um dos finalistas do Festival “Cante e Encante seu CTG”, representando a cidade de São Borja. A música escolhida se chama “Perfil Tradicionalista”, uma homenagem ao CFTG. A canção é autoria de Marcio Trindade e Pedro Ernani, com letra de José Pedro Batista Lopes e interpretada por Marcio Trindade. Este ano, o festival está sendo realizado de forma totalmente online, com final transmitida no dia 11 de julho, às 20h, e terá show de Érlon Péricles e Cristiano Quevedo, além de uma homenagem especial ao gaiteiro Porca Véia. 

 

Clube Comercial

Desde 12 de junho de 1944 atuando em São Borja, o Clube Comercial que já foi pertencente somente à elite, hoje, faz parte da história da comunidade são-borjense. São 75 anos de história contada com muitos eventos sociais como formaturas, casamentos, bailes e carnavais. Falando em carnaval, o Comercial se tornou local confirmado de diversos blocos e foliões. Porém, a pandemia do coronavírus também chegou ao clube. À frente do clube desde 2014 com uma equipe de parceiros e colaboradores parceiros, o atual presidente José Luiz do Amaral contou como está a situação do clube diante da crise causada pela Covid-19.

"O Clube Comercial estava interditado, podia usar somente a sede campestre. Começamos a trabalhar para organizar toda a questão com os bombeiros. Com tudo certinho na estrutura decidimos trazer pra cá o carnaval. De 2016 pra cá, conseguimos deixar sempre em dia e fazer o clube funcionar. Os funcionários também estavam com a folha atrasada, tudo atrasado. Um contador, companheiro nosso nos ajudou e conseguimos deixar tudo em dia. Em 2020 renovamos alvará e as exigências de funcionamento de novo, e estamos aptos a funcionar até 2022. Porém, com a crise da pandemia estamos com uma dificuldade enorme de manter tudo", afirma Amaral.

Com aproximadamente 1100 associados, o presidente lamenta que desse número, somente cerca de 50 sócios mantém os pagamentos em dia. O que garantiu o sucesso da gestão nos últimos anos, foi a parceria fechada com escolas da cidade, instituições de ensino superior como IFFar e Unipampa para realização de diversos eventos, e as festas de carnaval.

"Foi aí que a gente conseguiu se manter mais tranquilo. Essa parceria deu muito certo, pois dividimos os custos e aí funcionou. Conseguimos manter as folhas de pagamento, os encargos, tudo. Este ano a agenda estava completamente fechada, até o final do ano, com muitos eventos. Muitos já foram cancelados e não sabemos quando poderá ter de novo, o que dificulta ainda mais todo o planejamento", lamenta Amaral.

No quadro de funcionários, o gestor do Comercial se sente orgulhoso em poder contar com membros de equipe que tem mais de 10 anos de casa. Atualmente, com 5 funcionários registrados, a sua preocupação está no atraso dos salários que, infelizmente, se tornou realidade em sua gestão. Ainda existem os encargos mensais como água, energia, internet e telefone. Mesmo diante da atual situação, o Clube Comercial terá eleições este ano para escolher uma nova gestão ou manter a mesma. Amaral garante que tem planejado bastante com sua equipe, o que o motivou a concorrer novamente e seguir gerindo o clube, caso eleito. Previstas para junho, as eleições do clube foram adiadas, sem data definida. Contudo, o presidente faz um apelo:

"Pensamos em fazer alguma ação para levantar alguma renda, mas a situação é muito delicada, pra todo mundo. Não recebemos nenhuma outra verba, pública ou privada, por isso, quem puder nos dar algum auxílio, será muito bem-vindo e ajudará o Clube Comercial a se manter para continuar quando tudo isso passar. Do jeito que está, acredito que temos pouco mais de 3 meses pela frente. É crítica a situação", comenta Amaral. 

 
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