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Celso Lopes defende oposição responsável na Câmara

Rafael Vigna Postado dia 19/06/2019

Celso Lopes defende oposição responsável na Câmara

Por Luthero do Carmo e Rafael Vigna

Notícia da Edição impressa da Folha de São Borja de Sábado, dia 15 de junho 

Terceiro entrevistado da série com os 15 vereadores da Folha São Borja e do Programa Atualidades, Celso Lopes (PDT) exerce a liderança dos trabalhistas na Câmara. O parlamentar presidiu a Mesa Diretora em duas ocasiões, em 2005 e 2011. Experiente, ele é um tribuno de discurso firme, fiscalizador e possui pautas focadas, principalmente, no desenvolvimento e na saúde de São Borja. Em 2016, recebeu 680 votos, o equivalente a 1,85% do eleitorado. Neste mandato, busca criar as condições para exercer o que considera uma “oposição responsável”, ou seja, que permita aos vereadores de oposição – mesmo em minoria – serem ouvidos e apresentarem suas contribuições aos projetos de governo. Confira o que disse o vereador na quarta-feira, dia 12:

Folha de São Borja - Depois de 12 anos na base do governo, o senhor volta a integrar a oposição. Quais são os principais desafios?

Celso Lopes - Desde que assumimos, entendemos que teríamos de fazer uma oposição ao governo atual na Prefeitura, mas de forma responsável. Exercemos esse papel de maneira provocativa, no sentido de fiscalizar o Poder Executivo e sempre debater os assuntos importantes. Entendemos a legitimidade do governo que assumiu e acompanhamos muito de perto as atitudes e o plano de governo ao longo destes dois anos e meio. Isso deve ser feito com responsabilidade, de maneira construtiva, levando ideias. Entendo que o prefeito eleito é de toda a comunidade, não apenas daqueles que o elegeram. É dessa forma que atuamos e cobramos o que foi colocado como projeto de desenvolvimento para a sociedade.

Folha - O fato de estar em minoria na Câmara traz dificuldades para que a oposição consiga aprovar os projetos? Ainda assim, o senhor aprovou um texto sobre a questão dos produtos sem contraindicações para diabetes. Que pautas poderiam ser destacadas ao longo dos seus mandatos?

Lopes - Sempre existem aqueles projetos que são favoráveis a toda a sociedade e não envolvem as questões políticas. Outros, mesmo que sejam para o bem de todos, acabam contaminados pelo viés político. Às vezes, há esses embates. Especificamente na Câmara, existe o voto técnico, o voto constitucional e o voto político. Este projeto do diabetes é algo positivo, pois defende que os supermercados e as lojas deem visibilidade aos produtos que podem ser consumidos por quem tem diabetes. Tentamos ajudar no desenvolvimento de uma vida mais saudável. Fui presidente da Câmara em 2005 e 2011. Ganhei a presidência com os outros componentes da Mesa do Progressistas, que, naquele momento, eram de oposição ao governo de Mariovane Weis (PDT). Administramos de maneira diferente, buscando o diálogo com a comunidade, indo aos bairros. Esta foi a maior contribuição, pois ouvimos os anseios da comunidade com a Câmara. Também destaco a questão da transparência nos dados divulgados pela Câmara e pela Prefeitura. Sempre atuei bastante na área da saúde, fiscalizando e propondo ações e projetos. Participei da obra do PAM (Pronto Atendimento Médico). A atitude de doar uma ambulância ao Bairro do Passo, com as sobras do orçamento na minha presidência na Câmara, foi algo que despertou e abriu os caminhos para outras ações neste sentido. Buscamos sempre o desenvolvimento de São Borja. A nossa cidade tem várias questões. O Rio Uruguai tem muito potencial sem ser aproveitado. Em Uruguaiana, por exemplo, o transporte internacional chega a ser mais representativo do que a própria lavoura de arroz. Sabemos dos problemas estruturais, mas precisamos avançar. Eu diria que esse é o foco prioritário das nossas ações.

Folha - Essa pauta desenvolvimentista seria um dos pontos de convergência dentro da acirrada política local?

Lopes – Acredito que São Borja é conhecida pela força do trabalhismo e suas raízes. Há uma frase que costumavam dizer ao Getúlio Vargas: “Você cuida do Brasil e nós cuidamos de São Borja” (risos). Então, sempre se teve essa rivalidade. Mas temos a grandeza de entender que algumas coisas dependem de nós, os legisladores. A Câmara tem embates políticos acirrados, mas, sobretudo, ela é construtiva. Deve ser construtiva. Tenho atuação forte no parlamento e, quando fui governo, sempre busquei o diálogo com a oposição. Na tribuna, faço oposição, mas busco o viés construtivo, porque sei das dificuldades de São Borja. O que é bom, nós também temos que dizer. A Farmácia Básica do Bairro do Passo é um exemplo disso e foi um pedido de dois anos atrás. Há coisas que estão acontecendo e nós temos que apoiar. Estas novas pavimentações que estão previstas. É algo que beneficia, pois São Borja é uma cidade deficitária em asfaltos. É nesse sentido que nós trabalhamos. Também temos a consciência de que já realizamos muitas coisas para a cidade nas nossas administrações. A chegada do IFFar e da Unipampa, mais de 500 ruas pavimentadas, a construção da UPA, que está lá, pronta, mas não foi inaugurada, apesar da promessa eleitoral deste governo de abri-la em 30 dias após a posse, são apenas alguns exemplos. Tem muita coisa. Deixamos uma marca que a sociedade valoriza. Os contratos da Corsan também foram feitos no nosso governo. Hoje, ampliaram em 10 anos os prazos de conclusão, mas nós continuamos entendendo que deveriam ter sido cumpridos nos prazos previstos em suas origens.

Folha - Este pluralismo e o viés construtivo da Câmara são bastante perceptíveis. É possível notar mudança de votos em alguns assuntos em razão das explanações em tribuna. Por outro lado, há uma crítica recorrente em Plenário sobre o prefeito não ter sido vereador. Isso gera, na sua avaliação, alguma zona de conflito?

Lopes - Acredito que o governo está fragilizado. Há uma divisão explícita. A base do governo tem problemas internos que competem ao partido resolver. Isso nós vemos todos os dias e traz muitos problemas nas votações e nas discussões. Entendo que a questão da eventual mudança de votos está ligada ao aumento da insatisfação da própria base do governo que não concorda com muitas coisas. Às vezes, os projetos são votados diferentes daquilo que o governo gostaria. Nós sabemos da honestidade e da índole do prefeito e de suas origens. Mas, é explícito que o prefeito Eduardo Bonotto não gosta da Câmara. Ele vai muito pouco lá. Tem uma relação muito pobre com a Câmara. Mas a Câmara é o coração da cidade, é ali que chegam e se debatem os problemas. Não estou dizendo que ele não goste dos vereadores. Ele não gosta é da Câmara, talvez porque lá os debates sejam muito críticos. O fato dele não ter sido vereador poderia até gerar algum problema no início do mandato, mas com dois anos e meio, quase três anos, isso já deveria ter sido superado com um melhor conhecimento da máquina pública. No entanto, o que percebemos, são projetos que chegam atrasados, errados, com problemas na sua construção. Já era tempo de ter sido melhorado este tipo de encaminhamento. Então, essa dificuldade não tem mais razão para existir. É uma relação muito frágil com a Câmara. Na condição de prefeito, ele deveria dialogar com o governo e com a oposição. Uma das dificuldades na aprovação dos projetos é, com toda a clareza, este distanciamento do prefeito com a Câmara de Vereadores. Não falo isso para defender que ele tenha que se sujeitar a tudo o que Câmara aponte ou que tenha que ser submisso ao Legislativo. Jamais, não é essa a minha intenção, mas sim no sentido do diálogo construtivo. Por exemplo, sou oposição ao governador Eduardo Leite (PSDB). Acho que o Governo do Estado já poderia ter dado uma resposta melhor em algumas questões. No entanto, existe um ponto que temos de reconhecer. O seu diálogo com todos os partidos, com a formação de uma Bancada Gaúcha, sentado inclusive com o PT que é a sua maior oposição. Nós, em São Borja, teríamos de partir para isso. Na verdade, a prefeitura, seja a atual ou as passadas, se não tiver projetos e emendas, o prefeito se torna apenas um ordenador de despesa. Hoje o orçamento é extremamente comprometido com folha de pagamento e custeio. Não sobra nada.

Folha - Sem os recursos próprios o orçamento fica engessado...

Lopes - Dentro dos recursos próprios temos o IPTU que é significativo, mas com um aumento progressivo dos valores, o atraso também é enorme. Toda vez que se eleva impostos, também se eleva a inadimplência. Cada vez mais as pessoas estão comprometidas no Serasa. Hoje a prefeitura pode colocar o contribuinte no Serasa. Isso compromete a vida das pessoas. Se o prefeito não for atrás de projetos e de recursos, nada acontece. Nós, mesmo na oposição, liberamos emendas parlamentares. Recentemente, há uma de R$ 215 mil que colaboramos com o Poder Executivo. Onde era os Quartel dos Bombeiros do Passo, queremos uma creche para atender aos moradores daquela região. Tem que haver este diálogo. Ninguém administra sozinho. As parceiras público privadas tem que chegar. Outra preocupação que tenho é com a questão do lixão. Quem vai no lixão, a imprensa deveria ir, sai de lá apavorado. Eu sei que nós também não resolvemos aquele problema. É complicado, mas precisamos avançar. Há crianças em meio ao lixo e precisamos de melhores soluções.

Folha - Na sessão passada, a retirada de quórum da oposição nasceu por insatisfação sua em razão da derrubada do pedido de convocação de um representante da Fundação Ivan Goulart para falar a respeito do balanço da instituição. Naquele momento, o vereador Carmelito Lunardine do Amaral (PT) relembrou outros episódios ocorridos e fez uma convocação para que o PDT fosse mais “duro” nas votações. Na sua avaliação, este é o caminho?

Lopes - Isso apenas demonstra a boa vontade que temos com o governo. A vontade de sentarmos, aprovarmos projetos, muitas vezes, até aqueles que chegam fora dos prazos e com falhas de construção e de tramitação nas comissões. Buscamos sempre um entendimento construtivo. Por outro lado, o governo não pensa assim. Na última segunda-feira, por exemplo, tínhamos um requerimento para as empresas de ônibus intermunicipais (Planalto e Ouro e Prata) que prestam serviços aqui em São Borja e deixam a desejar em algumas questões. Eu poderia ter feito um ofício, mas um requerimento de toda a Câmara passa a ter mais legitimidade e força. Outro aspecto, o balanço da Fundação do Hospital Ivan Goulart. Sei da honestidade, da vontade e do compromisso da atual diretoria. Entendo que a Fundação não é propriedade de um grupo. É de São Borja. Eles são os atuais gestores. Investem muito na questão patrimonial. Mas o último balanço é preocupante. Gostaria apenas de ouvi-los, na condição de fiscalizador. Sabemos que é uma fundação, mas também recebe dinheiro público. Sabemos das dificuldades do hospital. A bancada da situação derrubou o nosso requerimento. O governo não busca o diálogo e sequer discute as nossas demandas. Pedimos a presença do representante para entender melhor os números. O balanço foi feito por uma consultoria externa que afirma com todas as letras que há dificuldades de manter a continuidade operacional. Não sou eu quem está dizendo. Por isso, gostaríamos de debater, perguntar. Sabemos da contribuição do empresário Celso Rigo ao Hospital, mas precisamos garantir a continuidade e, mais do que isso, gostaríamos de ajudar, até com emendas parlamentares, pois nos preocupamos. O governo, de forma radical, derruba tudo o que queremos construir. Nossos projetos tem enormes dificuldades em serem aprovados, pois o que vem de nós parece não servir. Mas quando precisam do nosso voto, nos procuram. Por isso, quando o vereador Carmelito se insurge, cobrando mais firmeza da bancada do PDT, é porque, muitas vezes, nós entendemos que de forma democrática temos que dar o nosso voto. A base nos procura, afirma que é bom para São Borja e de forma construtiva acabamos acompanhando. Nós queremos construir, não radicalizar e tirar proveito político. O que nos interessa é a finalidade, interessa aquilo que é construtivo e interessa ao bem comum. Por outro lado, temos que demonstrar mais firmeza para marcar uma posição, para mostrar que queremos ser ouvidos e também dar a nossa contribuição para São Borja.

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